Antes do mundo precisar parar em função da sobrevivência com a atual pandemia da Covid-19, este projeto buscou observar o tempo e o espaço a partir de uma poética da visibilização dos corpos. Utilizando-se de uma seleção de imagens - cedidas pelos fotógrafos Wander Rocha, Guy Veloso e minhas próprias - crio um jogo de projeções que, em parceria com a artista performática Luciana Lucena, propõe o diálogo entre corpos e imagens numa estética urbana ao mesmo tempo reflexiva e lúdica. Desde o início do projeto, a ideia era trabalhar com imagem de diversos fotógrafos, de modo a possibilitar, não um único olhar, mas uma perspectiva plural: caleidoscópica, talvez, já que o mundo está posto para ver visto, fragmentado em lentes e olhares. 
Assim como os corpos estabelecem relação com as projeções, criando imagens novas e novos espaços, os artistas se relacionam por suas diferentes linguagens. A arte é sempre relacional, já dizia Bourriaud. E é com este pensamento que “Invisibilidades” cria uma zona de aderências, em que cada um dos artistas envolvido no projeto troca, dialoga, cria correspondência com suas contribuições. 
A partir do ensaio fotográfico, com o uso da técnica de projeção, capto a relação que Luciana Lucena estabelece com as imagens que atravessam e são atravessadas por seu corpo nu. Dessa relação de reciprocidade, dá-se uma narrativa que convida os olhares a uma dança com novas perspectivas entre espaço e corporeidade. A artista apresenta seu corpo despido para além dos invólucros normativos que revestem a nudez sob a perspectiva ocidental.
Neste trabalho convidamos o público a perceber as sutilezas das ruas nos grandes centros urbanos. Convidamos os olhares à reflexão sobre a ocupação deste espaço, inventando possibilidades de uma resignificação do mesmo, não pelas vias da funcionalidade habitual, mas de uma poética do lúdico, dos afetos e por que não dizer das heterotopias?  A relação criada entre a imagem projetada das cidades e os corpos que interagem com elas cria, para além de uma imagem nova, um lugar outro com suas múltiplas camadas de significação. Hoje, em função dos isolamentos em que o mundo se confina por proteção contra a Covid-19, a reapropriação dos espaços possíveis é um desafio diário. Além de ser um convite a que novos olhares explorem perspectivas diversas das cotidianas e habituais, é um trabalho talhado por vários atravessamentos, em que cada artista imprime seu traço e é surpreendido pela da obra que se transforma a cada intervenção e a cada afetação. ​​​​​​​
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