Em agosto de 2019, durante um evento religioso, Jair Bolsonaro - ex Presidente do Brasil - subiu no palco e disse:
"Apresentem uma emenda à Constituição e modifiquem o artigo 226, que lá está escrito que família é homem e mulher. E mesmo mudando isso, como não dá pra emendar a Bíblia, eu vou continuar acreditando na família tradicional".
Diante desse pronunciamento, me veio a seguinte reflexão: como mostrar, através da fotografia, que esse tipo de pensamento retrógrado estava completamente equivocado? Surgiu então o projeto “Retrato de Família”, retratando uma cena em que famílias seriam representadas em suas diversas configurações, representações e composições. As famílias homoafetivas, as que consideram seus pets também como membros familiares, as que se mantiveram sempre unidas mesmo diante da perda da figura paterna e até mesmo as que decidiram - de forma independente - constituir uma família sem a figura paterna.
A cena em questão foi ambientada no lar dos retratados, mais especificamente em suas salas de estar. Essa configuração, ou taxonomia, veio por inspiração do casal de fotógrafos alemães Hilla e Bernd Becher. Nas séries de fotografias intituladas “work in progress”, o casal Becher definiu uma configuração que se repetiria em todas as imagens: céu nublado, luz opaca, muita profundidade de campo e perspectiva frontal para registrar o objeto em questão. Minha versão para essa taxonomia foi criar imagens onde as pessoas, ou membros familiares, estão sempre ao sofá (ou na ausência do mesmo, em cadeiras) e a fotografia feita sempre de forma frontal, lembrando um retrato.
Um ponto importante no projeto são as expressões faciais das pessoas. Geralmente, quando somos fotografados, estamos sorrindo numa forma de representar um momento feliz. Diferente disso, durante as sessões fotográficas, eu solicitei às pessoas que ficassem sérias. Essa seriedade representa, no meu projeto, a reprovação do conceito de “família” citado por Bolsonaro em seu discurso.
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